A incursão ucraniana no oblast russo de Kursk entra na segunda semana e, apesar de um certo ufanismo na grande mídia ocidental ainda é bastante difícil avaliar se a operação trará algum benefício aos ucranianos ou se o tiro sairá pela culatra.
É certo que o ataque e a ocupação de uma parcela, mesmo que mínima, do território nacional traz embaraços e constrangimentos ao Governo Russo, ao mesmo tempo em que fornecem aos ucranianos e seus aliados uma fonte de “boas notícias” num momento em que as forças ucranianas perdem terreno diariamente no Donbass. Por outro lado, o ataque dá mais argumentos aos russos que defendem uma mão mais pesada no conflito.
No aspecto puramente militar, após a surpresa inicial, os russos parecem ter contido o avanço dos ucranianos, que ainda tentam ampliar suas conquistas iniciais lançando mais unidades na região, algumas deles retiradas de outros fronts ativos. Com os reforços, o contingente ucraniano inclui unidades de seis brigadas de primeira linha, além de batalhões independentes e unidades de apoio de drones, artilharia, reconhecimento e forças especiais, que podem chegar – segundo alguns analistas – a um total de 15 mil homens.
Os russos também estão enviando reforços, incluindo unidades de elite como os fuzileiros navais, provavelmente já superando em números as tropas ucranianas. No entanto, cabe destacar que, apesar do que certamente desejam os ucranianos, esse reforço não está sendo retirado de outras frentes ativas e os russos mantém o ritmo e seguem avançando rumo a Toretsk, Chasiv Yar e, principalmente, Pokrovsk e não há indícios de que pretendam parar, enquanto as condições climáticas permitirem.
Ao longo da fronteira, numa frente de aproximadamente 40 km de largura, com uma profundidade que varia entre 10 e 30 km, os combates seguem intensos entre pequenos grupos, com diversos relatos – e imagens – de mortos e prisioneiros vindos de ambos os lados. O mesmo vale para destruição e captura de equipamentos e conquistas e libertação de pequenos vilarejos de duvidoso valor estratégico ou tático.
Minha opinião é que os ucranianos fazem uma aposta muito arriscada, ao enfraquecer suas defesas e lançar suas melhores tropas numa ofensiva com objetivos nebulosos e que parece começar a desandar, na medida em que são enviadas ainda mais unidades para tentar ampliar e consolidar suas conquistas em território russo em detrimento da defesa do seu próprio território.
Mais uma vez na história, a “névoa da guerra” permanece sobre a região de Kursk e só o tempo irá dissipá-la permitindo vislumbrar se a ofensiva foi uma cartada de mestre que terá permitido salvar a Ucrânia de uma situação claramente desfavorável ou o “canto do cisne” das bravas forças armadas ucranianas.
Cesar Machado 2024_08_15